quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A menina e o pássaro encantado

A menina e o pássaro encantado
Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: Era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...
Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.
Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.
" – Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você..."
E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça.
"... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes."
E de novo começavam as estórias.
A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.
Mas chegava sempre uma hora de tristeza.
" – Tenho que ir", ele dizia.
" – Por favor não vá. Fico tão triste. Terei saudades e vou chorar....". E a menina fazia um beicinho...
" – Eu  também terei saudades", dizia o pássaro. Eu também vou chorar. Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades. Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar."
Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite. Imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
" – Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Não  mais terei saudades, e ficarei feliz".
Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera.
Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu.
Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Foi acordar de madrugada, com um gemido do pássaro.
" – Ah! Menina... Que é que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias... Sem a saudade, o amor irá embora..."
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo...
Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola.
" – Pode ir, pássaro, volte quando quiser...".
" – Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar...".
E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia.
" – Que bom, pensava ela. "Meu pássaro está ficando encantado de novo...".
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra...
" – Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje..."
Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar. Ah! Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...
E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento:
" – Quem  sabe ele voltará amanhã..."
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro...

Rubem Alves
1- Vocabulário:
Encantado:
Longínquas:
Estalar:
Penacho:
Cachoeira:

2- Interpretação do texto:
Responda:
a) Por que o pássaro da menina era deferente?
R:

b) o que fazem os pássaros comuns se a porta da gaiola ficar aberta?
R:

c) Quanto ao aspecto físico, como o narrador descreve o pássaro?
R:

d) Desenhe o pássaro de acordo com a legenda e escreva o que ele contou do:
  
  
Lugar frio                                                           desenhar
         

Menina eu...                                                      desenhar


         
Lugar quente                                                    desenhar


e) Retire do texto o parágrafo que fala do amor entre o pássaro e a menina.
R:

f) O que você achou do pássaro encantado? Por quê? 
R:

3- Gramática do texto:

a) 1º parágrafo – 3 subst. comuns.
b) 2º parágrafo – 1 adjetivo polissílabo.
c) 3º parágrafo – 1 subst. feminino com hiato.
d) 4º parágrafo – 2 verbos trissílabos.
e) 5º parágrafo – 3 adjetivos.
f) 6º parágrafo – antônimo dos adjetivos.
a) Quentes:
b) Descobertos:
c) Preto:
d) Impuro:
e)Silêncio:
g) 7º parágrafo – 3 substantivos concretos, plural.
h) 8º parágrafo – 1 substantivo derivado.
i) 9º parágrafo – 1 substantivo simples, polissílabo, com dígrafo e hiato, está no plural.
j) 12º parágrafo – 2 palavras com encontro consonantal.
l) 14º parágrafo – 2 palavras com dígrafos.
m) 15º parágrafo – 3 palavras oxítonas, acentuadas.
n) 20º parágrafo – 3 verbos polissílabos.
o) 21º parágrafo – 1 palavra com encontro consonantal, polissílabo.
p) 30º parágrafo – 1 substantivo composto.
q) 9º parágrafo – 2 substantivo abstrato, trissílabo e terminado com “eza”.

4) Retire os verbos que terminam com “u”.
R:

5) Encontre os verbos que terminam em “m”.
R:

5) Produção de Texto:
Se o autor do texto teve o direito de usar a imaginação para criar “A menina e o pássaro encantado” nós também vamos usá-la para escrever um texto com o título. ”A volta do pássaro encantado”.

6) Artes
      Use a sua imaginação e de um colorido especial para o seu pássaro encantado.


Um comentário:

  1. Eu estava procurando um texto encantador que tivesse magia nas palavras e achei aqui esse texto de Rubem Alves.Parabéns Tânia, pela escolha do texto.seu Blog é muito interessante.

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